O cotidiano do passado
Os primeiros moradores do povoado eram
bastantes conservadores para a atualidade. Os casamentos eram arranjados,
muitas das vezes, a noiva nunca tinha visto o noivo e já teria que casar,
obedecendo as vontades de seus pais. Era tradição as famílias não se misturarem
com aquelas que as mesmas denominavam de estranhas, havia muito o casamento
entre parentes. Conta um senhor que um rapaz chamado de João Carreiro saiu da
região da Macambira em direção a localidade de Espinhos para olhar as filhas de
um homem, que era seu amigo, chegando lá não simpatizou com nenhuma das suas
três filhas, e falou o seguinte: - Bom, como eu já vi, eu vou me casar com a
Josefa. E assim foi.
Geralmente após o casamento a festa de comes e
bebes se prolongava por dois ou três dias, mesmo depois do casamento, o noivo
só recebia a noiva como mulher, propriamente dita, com 8 à 15 dias. Moça não
namorava no escuro, caso acontecesse algo suspeito os pais da moça obrigavam o
rapaz a casar. Interessante, que se o noivo descobrisse que sua noiva não era
mais virgem, mesmo depois do casamento, a devolvia aos seus pais.
As brincadeiras eram canções de roda,
casamento oculto. As crianças, quando meninas brincavam com bonecas de pano ou
até com sabugos de milho, já os meninos brincavam com boizinhos e carrinhos de
madeira, carrinho de carnaúba, entre outros.
As pessoas acreditavam demasiadamente em
lobisomem, amortalhado, fantasmas e visão da noite, possivelmente devido à
inexistência de energia elétrica que deixava a imaginação mais fértil.
Tocava-se violão, saxofone para animar as
noites em volta das fogueiras, comendo milho verde, mugunzá, pamonha, toucinha
na brasa e contando histórias ou estórias diversas. Conta-se que as festas
aconteciam numa casa do povoado, onde colocavam azeite de mamona nas lamparinas
e as trepavam nas paredes para iluminar a sala de dança. Eram de destaque
naquela época também as cantorias, recheadas de repentes.
Era comum nas décadas de 1920 e 1930, quando
morria alguém, enquanto fazia sentinela, ou seja, enquanto as pessoas estavam
no velório, muitas das vezes chorando, o prego cantava na madeira, pois os
carpinteiros caseiros estavam confeccionando os caixões com tábuas, isso quando
a família do morto tinha certa condição financeira, se não, era velado numa
cama de madeira ou numa rede e levado para o cemitério dentro da rede, sendo
enterrado com a mesma. O enterro antes da construção do cemitério de Várzea dos
Espinhos era feito no Ipú, em
Guaraciaba do Norte ou na Matriz de São
Gonçalo da Serra dos Cocos, atualmente distrito de Ipueiras.
Curioso que quando morria algum indivíduo
envenenado ou enforcado, isto é se suicidasse, o enterrava no mato, assim como
crianças pagãs. Um dos grandes alfaiates da localidade na época, Seu Primeno, de
origem desconhecida foi encontrado morto após ter se enforcado, contam alguns
que a causa foi desgosto. Teve o destino de ser enterrado no mato.
Água encanada não existia. Antes se bebia
água do rio, onde quando a mesma estava pouca abriam-se uma cacimba na margem
para retirá-la.
Com relação às roupas de antigamente, as
mulheres usavam vestidos longos, usavam véus para irem para igreja, panos ou
tiras na cabeça para ficarem em casa. Os homens quase sempre estavam de chapéu,
sendo os de palha para ficar em casa ou trabalhar e os de massa para o passeio.
Tinha também os de couro que usavam mais para cuidar do gado na caantiga.
As pessoas mais pobres, principalmente
filhos de moradores dos grandes proprietários tiravam croá nos
matos para fazerem esteiras, surrões, cordas e outros instrumentos úteis para
venderem no Ipú no
intuito de ajudarem no sustento de suas famílias.
Antes da construção da capela na
localidade, quando os moradores queriam assistir uma missa iam para Campo
Grande, nome anterior de Guaraciaba do Norte ou para Matriz de São Gonçalo da
Serra dos Cocos andando a pé ou de cavalo, se tivesse condições financeiras
para isso. Aos domingos João Batista Ribeiro celebrava um culto em sua casa às
duas horas da tarde.
Antes da construção da capela as
coroações saiam da casa de João Batista Ribeiro, onde sua filha Juraci arrumava
as crianças e a cerimônia acontecia na casa da dona Neuza Martins. As crianças coroantes
ficavam em cima de mesas, devido a ausência de altares, obviamente.
Quando alguém ficava doente, geralmente
se curava em casa com ervas medicinais, utilizando técnicas caseiras e rezas.
As principais rezadeiras eram
Virgínia, Joaquim Lopes, Emília Carreiro e Maria Mônica. Quando precisavam
comprar medicamentos as pessoas tinham que se deslocarem até a venda de
remédios de Edivar Melquide em
Várzea dos Espinhos, caso não encontrasse tinha que ir procurar José Augusto em
Guaraciaba do Norte ou ir ao Ipú. As mulheres tinham seus filhos em casa,
sob os cuidados de uma parteira, com destaque para Chiquinha Rita, Rosa Manduca
e Maria Alexandre, que inclusive pegou o autor desse histórico em Várzea dos
Espinhos.
No que diz respeito a política, mulher
não podia votar. Somente os homens detinham esse direito, sendo uma das
principais características do voto de antigamente o voto de cabresto e a
predominância do clientelismo. Um certo político já dizia, que era só jogar o
milho e todas as galinhas corriam.
A primeira televisão da localidade foi de
José Serina, o
qual trouxe a mesma do Rio de Janeiro, a primeira antena parabólica foi do
Aldair Martins de marca Tecsat, o
primeiro computador foi trazido pelo diretor da escola Fábio Pereira quando
veio trabalhar na comunidade. E a primeiro casa a possuir internet foi a de
Antonio Venâncio, conhecido como Neto. Leonardo do Jorge (Lioso) foi
o primeiro a possuir um carro, uma rural muita antiga para época e, a primeira
moto foi de Francisco Martins.
A construção da escola
Depois |
Antes |
A Escola de Ensino Infantil e Fundamental João
Batista Ribeiro foi construída em 1974 mediante iniciativa do então prefeito de
Guaraciaba do Norte, José Maria Melo que em visita a comunidade de Martinslândia, que
na época ainda era simplesmente um povoado, pois tornou-se distrito somente em
1992, reconhece a necessidade de uma escola diante da precariedade educacional,
onde as poucas professoras do local ensinavam em suas casas.
Por ser uma localidade muito distante da sede
do município e de difícil acesso, e de uma necessidade tamanha de
desenvolvimento educacional e social para o povo, a população se mobilizou e
juntando-se as lideranças comunitárias, educadores e políticos usando de bom
senso chegaram a uma conscientização que a solução daquele problema seria com a
construção de uma escola, e nomeando educadores para desenvolver a aprendizagem
de um povo que vivia a margem de uma sociedade analfabeta e excludente, de
certa forma sem perspectivas. E um dos fatores preponderantes para que a
construção da mesma ganhasse impulso foi à proximidade das eleições
partidárias, onde os políticos cobravam os agradecimentos do povo por meio do
voto.
A Escola de Ensino Infantil e Fundamental João
Batista Ribeiro recebe esse nome em homenagem ao doador do terreno de 40 m²,
João Batista Ribeiro, que também é considerado patrono da comunidade, à
prefeitura para construção da escola. Seus fundadores foram José Maria Melo,
prefeito municipal da época, José Elisiário de Melo Nobre, pré- candidato do
prefeito, João Batista Ribeiro, fundador da comunidade e as professoras Antonia
Martins Ribeiro, Maria Saraiva Martins e Maria Gizelda Martins.
Quando
a construção se impulsionou em 1974, teve como chefe de obras Raimundo
Alexandre, oriundo de Sussuanha,
distrito de Guaraciaba do Norte. Foram construídas somente duas salas, onde
atualmente funciona a secretaria, desprovidas de banheiro.
A primeira merendeira foi Juraci Martins Melo,
a qual fazia a merenda na casa de seu pai João Batista Ribeiro, em um fogão à
lenha. Os alunos levavam seus copos de casa padronizados com os seus nomes,
pois a quantidade disponível era insuficiente, disponibilizada somente para os
professores, os quais merendavam no alpendre da casa.
A primeira diretora foi Antônia Martins
Ribeiro, que além de ser responsável pela escola, ainda lecionava. Em 1987,
Francisca das Chagas Bezerra assume a direção até 1989, nessa gestão foram
construídas duas salas e uma cantina, chegaram pratos e copos para os alunos,
além de material didático, embora muito precários. Foram contratadas mais duas
merendeiras, Maria de Fátima e Maria dos Prazeres.
De 1989 até 1993, a escola ficou praticamente
sem direção, contando com o suporte de Maria Assunção Ribeiro, diretora da
escola de Várzea dos Espinhos, até que Edmar Teixeira da Silva assumisse a
direção na gestão municipal de Antônio Bezerra Marques, quando foram
construídas mais duas salas.
Em 1996, assume Maria Dalva Bezerra, no
governo Municipal de Assis Teixeira Lopes. Em sua gestão chegaram para escola
televisão, videocassete, mimeógrafo, máquina de datilografar, freezer, antena
parabólica e muitos professores passaram por formações. A escola acomodou o
tempo de Avançar Fundamental e Médio, tendo como o melhor professor da Serra da
Ibiapaba,
nessa modalidade, Edmar Teixeira.
José
Fábio Pereira assume de 2002 até 2003 a direção. Ano que Júlia de Menezes
Ribeiro assume, gestão da qual chegam alguns armários na escola, tem início a
formação do magistério para os professores, chamado de PROFORMAÇÃO, período no
qual os alunos do Fundamental II, tiveram que estudar em outro distrito, em
Várzea dos Espinhos.
No
ano de 2005 assume Roza
Maria Martins, a qual se mantém até os dias atuais, na gestão municipal de Dr.
Egberto Martins. Em sua direção o Fundamental II volta para Martinslândia, a
escola se torna uma escola polo, pela lei n° 889/2008, aprovada e
sancionada pelo prefeito municipal Dr. Egberto Martins, foi instalado um
laboratório de informática, a estrutura física da escola foi ampliada, foi
feita a contratação de secretário escolar, coordenação pedagógica e capacitação
para professores, conquistando vitórias diante dos projetos educacionais, além
da chegada de recursos didáticos, audiovisuais e a entrada de recursos, como do
PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola). Cabe destacar o trabalho da
coordenadora Regina Célia Bezerra, que desenvolve um ótimo trabalho, a qual é
uma figura carismática e símbolo da educação local.
A escola adota os quatro pilares básicos da
educação no século XXI, apontados por Jacques Delors, os quais são o aprender a conhecer, o
aprender a fazer, o aprender a conviver e o aprender a ser. Pilares estes que
escola os entende, os traduz e os complementa, favorecendo a construção de uma
nova educação para a cidadania, através do uso de uma prática voltada
essencialmente para a formação integral do aluno, buscando um ensino de
qualidade e permitindo assim, a plena assimilação de conhecimentos e vivência
de experiências ampliando suas potencialidades, resgatando e promovendo a
formação de uma nova visão de ser cidadão,orientando-os nas relações
interpessoais,através de vivências cooperativas,de respeito e igualdade que
possibilitem a plena estruturação de valores éticos,críticos,solidários,sendo
estes indispensáveis à vida em sociedade nos aspectos sócio-econômicos,
étnico-culturais e cognitivos de cada faixa etária.
A Escola de Ensino Infantil e Fundamental João
Batista Ribeiro localiza-se na Rua Principal do distrito de Martinslândia, no
município de Guaraciaba do Norte, Ceará. E atende em sua maioria filhos e
filhas de trabalhadores rurais, ou seja, agricultores e horticultores, também
de pedreiros, donas de casa, professores e outros. Esses alunos são
provenientes, além do distrito de Martinslândia, no
qual a escola se encontra, de povoados como Rancho do Povo, Pequimagro,
Espinhos I, Espinhos II, Estivado e Lagoa Velha, que já pertence ao município
de Ipú.
A falta de refeitório, a falta de espaço para
recreação e principalmente o acompanhamento deficiente dos alunos com
necessidades especiais, pois faltam profissionais qualificados para esse fim,
são as principais dificuldades da escola, no que diz respeito, ao atendimento à
comunidade escolar.
A
escola tem uma importância primordial para a sociedade, pois busca contribuir
para a constante melhoria das condições educacionais da população, visando
assegurar uma educação de qualidade aos seus alunos num ambiente criativo,
inovador e de respeito ao próximo, valorizando a prática da cidadania e de
igualdade nos aspectos político-sociais e étnico-culturais.
Hoje a escola comporta, 558 alunos, destes são
83 na Educação Infantil, 214 no Fundamental I, 226 no Fundamental II e 35 na
Educação de Jovens e Adultos. A escola
conta com 28 professores, 1 diretor, 1 coordenador pedagógico, 12 auxiliares de
serviços gerais,1 porteiro, 2 vigias e 1 secretário escolar. E atende uma
clientela de 1º ao 9º ano do ensino fundamental, além das salas anexas de
educação infantil.
A escola é vista pela comunidade como o núcleo
do distrito de Martinslândia,
sendo o local de difusão de conhecimentos e valores humanos, além de
protagonista dos eventos sociais que acontecem na comunidade, pois na escola se
realizam mutirões de cidadania, palestras de relevância para comunidade,
diversificadas apresentações artísticas e culturais. E a comunidade espera que
a escola a cada dia aumente seu grau de atuação no distrito e povoados
adjacentes, principalmente na orientação dos problemas dos mais diversos
gêneros da população, pois os moradores locais depositam grande credibilidade a
instituição, diante da boa vontade do núcleo gestor e educadores que estão a
frente da escola prestar solidariedade a todos, no que diz respeito, a
informação ou orientação, independente de ser aluno ou não, de ser pai de aluno
ou não.
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