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sábado, 22 de fevereiro de 2014

História de Martinslândia III


O cotidiano do passado
 
  Os primeiros moradores do povoado eram bastantes conservadores para a atualidade. Os casamentos eram arranjados, muitas das vezes, a noiva nunca tinha visto o noivo e já teria que casar, obedecendo as vontades de seus pais. Era tradição as famílias não se misturarem com aquelas que as mesmas denominavam de estranhas, havia muito o casamento entre parentes. Conta um senhor que um rapaz chamado de João Carreiro saiu da região da Macambira em direção a localidade de Espinhos para olhar as filhas de um homem, que era seu amigo, chegando lá não simpatizou com nenhuma das suas três filhas, e falou o seguinte: - Bom, como eu já vi, eu vou me casar com a Josefa. E assim foi.
  Geralmente após o casamento a festa de comes e bebes se prolongava por dois ou três dias, mesmo depois do casamento, o noivo só recebia a noiva como mulher, propriamente dita, com 8 à 15 dias. Moça não namorava no escuro, caso acontecesse algo suspeito os pais da moça obrigavam o rapaz a casar. Interessante, que se o noivo descobrisse que sua noiva não era mais virgem, mesmo depois do casamento, a devolvia aos seus pais.
  As brincadeiras eram canções de roda, casamento oculto. As crianças, quando meninas brincavam com bonecas de pano ou até com sabugos de milho, já os meninos brincavam com boizinhos e carrinhos de madeira, carrinho de carnaúba, entre outros.
  As pessoas acreditavam demasiadamente em lobisomem, amortalhado, fantasmas e visão da noite, possivelmente devido à inexistência de energia elétrica que deixava a imaginação mais fértil.
  Tocava-se violão, saxofone para animar as noites em volta das fogueiras, comendo milho verde, mugunzá, pamonha, toucinha na brasa e contando histórias ou estórias diversas. Conta-se que as festas aconteciam numa casa do povoado, onde colocavam azeite de mamona nas lamparinas e as trepavam nas paredes para iluminar a sala de dança. Eram de destaque naquela época também as cantorias, recheadas de repentes.
  Era comum nas décadas de 1920 e 1930, quando morria alguém, enquanto fazia sentinela, ou seja, enquanto as pessoas estavam no velório, muitas das vezes chorando, o prego cantava na madeira, pois os carpinteiros caseiros estavam confeccionando os caixões com tábuas, isso quando a família do morto tinha certa condição financeira, se não, era velado numa cama de madeira ou numa rede e levado para o cemitério dentro da rede, sendo enterrado com a mesma. O enterro antes da construção do cemitério de Várzea dos Espinhos era feito no Ipú, em Guaraciaba do Norte ou na Matriz  de São Gonçalo da Serra dos Cocos, atualmente distrito de Ipueiras.
  Curioso que quando morria algum indivíduo envenenado ou enforcado, isto é se suicidasse, o enterrava no mato, assim como crianças pagãs. Um dos grandes alfaiates da localidade na época, Seu Primeno, de origem desconhecida foi encontrado morto após ter se enforcado, contam alguns que a causa foi desgosto. Teve o destino de ser enterrado no mato.
Água encanada não existia. Antes se bebia água do rio, onde quando a mesma estava pouca abriam-se uma cacimba na margem para retirá-la.
Com relação às roupas de antigamente, as mulheres usavam vestidos longos, usavam véus para irem para igreja, panos ou tiras na cabeça para ficarem em casa. Os homens quase sempre estavam de chapéu, sendo os de palha para ficar em casa ou trabalhar e os de massa para o passeio. Tinha também os de couro que usavam mais para cuidar do gado na caantiga.
As pessoas mais pobres, principalmente filhos de moradores dos grandes proprietários tiravam croá nos matos para fazerem esteiras, surrões, cordas e outros instrumentos úteis para venderem no Ipú no intuito de ajudarem no sustento de suas famílias.
Antes da construção da capela na localidade, quando os moradores queriam assistir uma missa iam para Campo Grande, nome anterior de Guaraciaba do Norte ou para Matriz de São Gonçalo da Serra dos Cocos andando a pé ou de cavalo, se tivesse condições financeiras para isso. Aos domingos João Batista Ribeiro celebrava um culto em sua casa às duas horas da tarde.
Antes da construção da capela as coroações saiam da casa de João Batista Ribeiro, onde sua filha Juraci arrumava as crianças e a cerimônia acontecia na casa da dona Neuza Martins. As crianças coroantes ficavam em cima de mesas, devido a ausência de altares, obviamente.
Quando alguém ficava doente, geralmente se curava em casa com ervas medicinais, utilizando técnicas caseiras e rezas. As principais rezadeiras eram Virgínia, Joaquim Lopes, Emília Carreiro e Maria Mônica. Quando precisavam comprar medicamentos as pessoas tinham que se deslocarem até a venda de remédios de Edivar Melquide em Várzea dos Espinhos, caso não encontrasse tinha que ir procurar José Augusto em Guaraciaba do Norte ou ir ao Ipú. As mulheres tinham seus filhos em casa, sob os cuidados de uma parteira, com destaque para Chiquinha Rita, Rosa Manduca e Maria Alexandre, que inclusive pegou o autor desse histórico em Várzea dos Espinhos.
No que diz respeito a política, mulher não podia votar. Somente os homens detinham esse direito, sendo uma das principais características do voto de antigamente o voto de cabresto e a predominância do clientelismo. Um certo político já dizia, que era só jogar o milho e todas as galinhas corriam.
A primeira televisão da localidade foi de José Serina, o qual trouxe a mesma do Rio de Janeiro, a primeira antena parabólica foi do Aldair Martins de marca Tecsat, o primeiro computador foi trazido pelo diretor da escola Fábio Pereira quando veio trabalhar na comunidade. E a primeiro casa a possuir internet foi a de Antonio Venâncio, conhecido como Neto. Leonardo do Jorge (Lioso) foi o primeiro a possuir um carro, uma rural muita antiga para época e, a primeira moto foi de Francisco Martins.
 
A construção da escola
Depois
Antes

  A Escola de Ensino Infantil e Fundamental João Batista Ribeiro foi construída em 1974 mediante iniciativa do então prefeito de Guaraciaba do Norte, José Maria Melo que em visita a comunidade de Martinslândia, que na época ainda era simplesmente um povoado, pois tornou-se distrito somente em 1992, reconhece a necessidade de uma escola diante da precariedade educacional, onde as poucas professoras do local ensinavam em suas casas.
  Por ser uma localidade muito distante da sede do município e de difícil acesso, e de uma necessidade tamanha de desenvolvimento educacional e social para o povo, a população se mobilizou e juntando-se as lideranças comunitárias, educadores e políticos usando de bom senso chegaram a uma conscientização que a solução daquele problema seria com a construção de uma escola, e nomeando educadores para desenvolver a aprendizagem de um povo que vivia a margem de uma sociedade analfabeta e excludente, de certa forma sem perspectivas. E um dos fatores preponderantes para que a construção da mesma ganhasse impulso foi à proximidade das eleições partidárias, onde os políticos cobravam os agradecimentos do povo por meio do voto.
  A Escola de Ensino Infantil e Fundamental João Batista Ribeiro recebe esse nome em homenagem ao doador do terreno de 40 m², João Batista Ribeiro, que também é considerado patrono da comunidade, à prefeitura para construção da escola. Seus fundadores foram José Maria Melo, prefeito municipal da época, José Elisiário de Melo Nobre, pré- candidato do prefeito, João Batista Ribeiro, fundador da comunidade e as professoras Antonia Martins Ribeiro, Maria Saraiva Martins e Maria Gizelda Martins.
Quando a construção se impulsionou em 1974, teve como chefe de obras Raimundo Alexandre, oriundo de Sussuanha, distrito de Guaraciaba do Norte. Foram construídas somente duas salas, onde atualmente funciona a secretaria, desprovidas de banheiro.
  A primeira merendeira foi Juraci Martins Melo, a qual fazia a merenda na casa de seu pai João Batista Ribeiro, em um fogão à lenha. Os alunos levavam seus copos de casa padronizados com os seus nomes, pois a quantidade disponível era insuficiente, disponibilizada somente para os professores, os quais merendavam no alpendre da casa.
  A primeira diretora foi Antônia Martins Ribeiro, que além de ser responsável pela escola, ainda lecionava. Em 1987, Francisca das Chagas Bezerra assume a direção até 1989, nessa gestão foram construídas duas salas e uma cantina, chegaram pratos e copos para os alunos, além de material didático, embora muito precários. Foram contratadas mais duas merendeiras, Maria de Fátima e Maria dos Prazeres.
  De 1989 até 1993, a escola ficou praticamente sem direção, contando com o suporte de Maria Assunção Ribeiro, diretora da escola de Várzea dos Espinhos, até que Edmar Teixeira da Silva assumisse a direção na gestão municipal de Antônio Bezerra Marques, quando foram construídas mais duas salas.
  Em 1996, assume Maria Dalva Bezerra, no governo Municipal de Assis Teixeira Lopes. Em sua gestão chegaram para escola televisão, videocassete, mimeógrafo, máquina de datilografar, freezer, antena parabólica e muitos professores passaram por formações. A escola acomodou o tempo de Avançar Fundamental e Médio, tendo como o melhor professor da Serra da Ibiapaba, nessa modalidade, Edmar Teixeira.
José Fábio Pereira assume de 2002 até 2003 a direção. Ano que Júlia de Menezes Ribeiro assume, gestão da qual chegam alguns armários na escola, tem início a formação do magistério para os professores, chamado de PROFORMAÇÃO, período no qual os alunos do Fundamental II, tiveram que estudar em outro distrito, em Várzea dos Espinhos.
No ano de 2005 assume Roza Maria Martins, a qual se mantém até os dias atuais, na gestão municipal de Dr. Egberto Martins. Em sua direção o Fundamental II volta para Martinslândia, a escola se torna uma escola polo, pela lei n° 889/2008, aprovada e sancionada pelo prefeito municipal Dr. Egberto Martins, foi instalado um laboratório de informática, a estrutura física da escola foi ampliada, foi feita a contratação de secretário escolar, coordenação pedagógica e capacitação para professores, conquistando vitórias diante dos projetos educacionais, além da chegada de recursos didáticos, audiovisuais e a entrada de recursos, como do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola). Cabe destacar o trabalho da coordenadora Regina Célia Bezerra, que desenvolve um ótimo trabalho, a qual é uma figura carismática e símbolo da educação local.
  A escola adota os quatro pilares básicos da educação no século XXI, apontados por Jacques Delors, os quais são o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a conviver e o aprender a ser. Pilares estes que escola os entende, os traduz e os complementa, favorecendo a construção de uma nova educação para a cidadania, através do uso de uma prática voltada essencialmente para a formação integral do aluno, buscando um ensino de qualidade e permitindo assim, a plena assimilação de conhecimentos e vivência de experiências ampliando suas potencialidades, resgatando e promovendo a formação de uma nova visão de ser cidadão,orientando-os nas relações interpessoais,através de vivências cooperativas,de respeito e igualdade que possibilitem a plena estruturação de valores éticos,críticos,solidários,sendo estes indispensáveis à vida em sociedade nos aspectos sócio-econômicos, étnico-culturais e cognitivos de cada faixa etária.
  A Escola de Ensino Infantil e Fundamental João Batista Ribeiro localiza-se na Rua Principal do distrito de Martinslândia, no município de Guaraciaba do Norte, Ceará. E atende em sua maioria filhos e filhas de trabalhadores rurais, ou seja, agricultores e horticultores, também de pedreiros, donas de casa, professores e outros. Esses alunos são provenientes, além do distrito de Martinslândia, no qual a escola se encontra, de povoados como Rancho do Povo, Pequimagro, Espinhos I, Espinhos II, Estivado e Lagoa Velha, que já pertence ao município de Ipú.
  A falta de refeitório, a falta de espaço para recreação e principalmente o acompanhamento deficiente dos alunos com necessidades especiais, pois faltam profissionais qualificados para esse fim, são as principais dificuldades da escola, no que diz respeito, ao atendimento à comunidade escolar.
A escola tem uma importância primordial para a sociedade, pois busca contribuir para a constante melhoria das condições educacionais da população, visando assegurar uma educação de qualidade aos seus alunos num ambiente criativo, inovador e de respeito ao próximo, valorizando a prática da cidadania e de igualdade nos aspectos político-sociais e étnico-culturais.
  Hoje a escola comporta, 558 alunos, destes são 83 na Educação Infantil, 214 no Fundamental I, 226 no Fundamental II e 35 na Educação de Jovens e Adultos.  A escola conta com 28 professores, 1 diretor, 1 coordenador pedagógico, 12 auxiliares de serviços gerais,1 porteiro, 2 vigias e 1 secretário escolar. E atende uma clientela de 1º ao 9º ano do ensino fundamental, além das salas anexas de educação infantil.  
  A escola é vista pela comunidade como o núcleo do distrito de Martinslândia, sendo o local de difusão de conhecimentos e valores humanos, além de protagonista dos eventos sociais que acontecem na comunidade, pois na escola se realizam mutirões de cidadania, palestras de relevância para comunidade, diversificadas apresentações artísticas e culturais. E a comunidade espera que a escola a cada dia aumente seu grau de atuação no distrito e povoados adjacentes, principalmente na orientação dos problemas dos mais diversos gêneros da população, pois os moradores locais depositam grande credibilidade a instituição, diante da boa vontade do núcleo gestor e educadores que estão a frente da escola prestar solidariedade a todos, no que diz respeito, a informação ou orientação, independente de ser aluno ou não, de ser pai de aluno ou não.



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